quinta-feira, 14 de julho de 2011

O MITO DO AMOR MATERNO

Existe uma crença de que todas as mulheres foram programadas biológica e instintivamente para amarem seus filhos. Tradicionalmente se fala até mesmo de um ‘instinto materno’, que deveria obrigatória e naturalmente estar presente em todas as mulheres, e que quando isso não ocorresse, haveria algo de muito errado. São atribuídas aos sentimentos maternos qualidades extremamente idealizadas. Prosa e verso sempre retrataram a dedicação incondicional de uma mãe a seu filho, sendo o amor materno percebido como algo extremamente puro, imaculado, até mesmo dotado de características quase que divinas. Não é por acaso que tanto é cobrado das mães, e que elas, por sua vez, acabam elas mesmas, cobrando tanto de si próprias. Mas muito ao contrário do que se poderia pensar, o amor materno não é um ‘produto inato e que já vem pronto e acabado’, mas sim um sentimento que vai sendo construído ao longo do tempo, através do fortalecimento diário da relação existente entre mãe e filho.
Em seu livro “Um amor conquistado – o mito do amor materno”, Elizabeth Badinter, nos mostra que o amor materno não é “dado”, mas como o próprio título diz, algo a ser “conquistado”. Toda a argumentação do livro se baseia no fato de que o amor materno como nós o conhecemos atualmente, é uma construção histórico-sociológica recente. Os estudos e pesquisas realizados pela autora demonstram que de uma certa forma, em diversos momentos históricos, a mãe possuía um papel mais biológico (de procriação), do que propriamente afetivo, como acontecia nas sociedades francesas dos séculos XVII e XVIII. Assim que a criança nascia, independentemente da classe social a qual pertencesse, ela era entregue a uma ama de leite, que se tornava a pessoa responsável pelos cuidados afetivos e de sobrevivência, até o momento em que por volta dos cinco anos, seria novamente entregue a seus pais, não sendo raro que esse período se estendesse até o início da adolescência. Badinter concluiu que contrariando o que se pensa atualmente, a dedicação e o interesse pelo mundo infantil não estiveram presentes em todas as épocas. A maternidade como a percebemos hoje em dia é uma ‘aquisição moderna’, resultado da evolução social das sociedades industriais a partir do século XIX. O conceito de uma ‘construção do amor materno’ faz sentido se pensarmos que o papel da mulher sofreu transformações muito rápidas em um curto espaço de tempo. A mulher ’saiu de casa’, entrou no mercado de trabalho, conquistou espaços, e por mais paradoxal que possa parecer, é interessante notar que nunca esteve tão próxima de seus filhos como atualmente. Nesse sentido fica realmente bastante claro o quanto o amor materno é muito mais fruto de condições emocionais. A maternidade deixou de ser encarada como uma obrigação biológica, para ser percebida como uma escolha afetiva. 


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